Nasci dia 02, onde pude ver ao redor. Eu e os outros que existiam além de mim. Logo já eram dois.
O
dois relacional, sem saber ser somente eu. Bem cedo olhava para o que existia e
pensava existir algo a mais, era possível existir além de pessoas iguais a mim,
também existiam animais, peixes, aves, rios, montanhas, mas existia algo mais
que não podia ver.
Os
anos passados chegados e me fizeram ver que sou uma como a terra e a semente,
como a planta podada prestes a crescer, mas também sou uma como a árvore
crescida cheia de marcas profundas causadas pelas experiências.
Sou
uma como o pássaro e o ar, transportando-me para a beija flor que voa
livremente, faço-me uma com ela, com as asas rápidas e coloridas cruzando o
vento e construindo a vida.
Sou
uma com sol e a lua que se encontram e se despedem para que cada um cumpra seus
desígnios no universo. Sou uma com a escuridão para o descanso e uma com a luz
que traz a consciência.
Sou
uma com o bem que faz a vida possível e o existir permanecer intacto, a
esperança permanecer afirmando que tudo é possível porque o bem é eterno.
Sou
uma com o mal que não deixa de mostrar-me a sua cara para que eu possa escolher
se quero segui-lo ou se fujo avisando a todos que ele representa morte.
Sou
uma com a música que traz-me a emoção gritar de alegria na alma e o
contentamento avisando que se não for uma com a emoção serei uma como morta-viva.
Sou
uma com a arte, a sensibilidade que quer mostrar o abstrato criado pelas mãos
do artista que ali tentou se fazer existir um com ela.
Sou
uma com a mulher, com o homem, o feminino e o masculino que pulsa dentro de mim
trazendo o encontro da força e da delicadeza, da graciosidade e da
objetividade.
Sou
uma com você que faz-me sentir em unidade humana a espera do que possa renascer
ou o novo que possa surgir, convidando ao Terceiro que traga e consagre o amor.
Sou
uma também com os alimentos, com a saúde física que não permite que eu seja
fantasma na existência. Sou uma com o corpo, com vida que pulsa impedindo que
seja invisível, lembrando que posso ter também o espírito.
Uma, assim como entre o idoso e o bebê há o mistério da vida que envolve forças opostas; uma, com o que está brotando e outra que está findando. Numa existe fôlego do começo e outra existe fôlego da força adquirida das lutas e da dignidade.
Sou uma
com o indigente, com o ambulante para que soubesse
da solidão, da miséria e da consciência perdida.
Uma
com as mãos, com os pés, com os olhos, com os ouvidos, com a voz, com a alma
para tornar-se ser com o espírito.
Mas
o que sou além de dois, eu e tudo isso ao redor que posso sentir e ver se não
chegar a ser três ? Se permanecer sendo apenas dois, estarei findada tão logo
chegue meus dias na matéria.
Todo
o belo, magnífico torna-se nada sem o Três.
O
algo que pressenti existir desde os cinco anos, se fez existir em mim a partir
do amadurecimento da consciência fazendo-me constatar que dois sem se tornar
três não é nada além de dois.
A
beleza morre pois tudo se finda se não houver a vida do espírito vivificada a
assoprar-me fôlego todas as manhãs. Assim o dois só podem tornar-se três com
meu convite, pois Ele é um com a ética e o respeito ao meu ser livre.
Como
o Pai e o Filho tornam-se três com o Espírito, assim sou eu e tudo ao redor que
pode também se tornar três com o Espírito que injeta vida e vigor ao corpo e
movimento de tudo em todos.
Antes de tudo, Ele existia em mim. Hoje sou três com Ele em
mim.