domingo, 16 de outubro de 2016

Fez-me dois para sermos três

Nasci dia 02, onde pude ver ao redor. Eu e os outros que existiam além de mim. Logo já eram dois.

O dois relacional, sem saber ser somente eu. Bem cedo olhava para o que existia e pensava existir algo a mais, era possível existir além de pessoas iguais a mim, também existiam animais, peixes, aves, rios, montanhas, mas existia algo mais que não podia ver.

Os anos passados chegados e me fizeram ver que sou uma como a terra e a semente, como a planta podada prestes a crescer, mas também sou uma como a árvore crescida cheia de marcas profundas causadas pelas experiências.

Sou uma como o pássaro e o ar, transportando-me para a beija flor que voa livremente, faço-me uma com ela, com as asas rápidas e coloridas cruzando o vento e construindo a vida.

Sou uma com sol e a lua que se encontram e se despedem para que cada um cumpra seus desígnios no universo. Sou uma com a escuridão para o descanso e uma com a luz que traz a consciência.

Sou uma com o bem que faz a vida possível e o existir permanecer intacto, a esperança permanecer afirmando que tudo é possível porque o bem é eterno.

Sou uma com o mal que não deixa de mostrar-me a sua cara para que eu possa escolher se quero segui-lo ou se fujo avisando a todos que ele representa morte.

Sou uma com a música que traz-me a emoção gritar de alegria na alma e o contentamento avisando que se não for uma com a emoção serei  uma como morta-viva.

Sou uma com a arte, a sensibilidade que quer mostrar o abstrato criado pelas mãos do artista que ali tentou se fazer existir um com ela.

Sou uma com a mulher, com o homem, o feminino e o masculino que pulsa dentro de mim trazendo o encontro da força e da delicadeza, da graciosidade e da objetividade.

Sou uma com você que faz-me sentir em unidade humana a espera do que possa renascer ou o novo que possa surgir, convidando ao Terceiro que traga e consagre o amor.

Sou uma também com os alimentos, com a saúde física que não permite que eu seja fantasma na existência. Sou uma com o corpo, com vida que pulsa impedindo que seja invisível, lembrando que posso ter também o espírito.

Uma, assim como entre o idoso e o bebê há o mistério da vida que envolve forças opostas; uma, com o que está brotando e outra que está findando. Numa existe fôlego do começo e outra existe fôlego da força adquirida das lutas e da dignidade.

Sou uma com o indigente, com o ambulante para que  soubesse  da solidão, da miséria e da consciência perdida.

Uma com as mãos, com os pés, com os olhos, com os ouvidos, com a voz, com a alma para tornar-se ser com o espírito.

Mas o que sou além de dois, eu e tudo isso ao redor que posso sentir e ver se não chegar a ser três ? Se permanecer sendo apenas dois, estarei findada tão logo chegue meus dias na matéria.

Todo o belo, magnífico torna-se nada sem o Três.

O algo que pressenti existir desde os cinco anos, se fez existir em mim a partir do amadurecimento da consciência fazendo-me constatar que dois sem se tornar três não é nada além de dois.

A beleza morre pois tudo se finda se não houver a vida do espírito vivificada a assoprar-me fôlego todas as manhãs. Assim o dois só podem tornar-se três com meu convite, pois Ele é um com a ética e o respeito ao meu ser livre.

Como o Pai e o Filho tornam-se três com o Espírito, assim sou eu e tudo ao redor que pode também se tornar três com o Espírito que injeta vida e vigor ao corpo e movimento de tudo em todos.


Antes de tudo, Ele existia em mim. Hoje sou três com Ele em mim.

 

 

Iseli.

16/10/16.