domingo, 29 de janeiro de 2017

Desconstruindo ódio, construindo amor.

Você é fundamental nessa ideia !!
 O Ódio gratuito e o amor

Concordo com a ideia de que o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.

“Uma vez que na indiferença mata-se a pessoa de dentro, enquanto que no ódio existe uma pulsão de emoção na direção da pessoa. Essa pulsão alimenta a existência daquela pessoa dentro de nós – isso é vida”.  

Ou seja, o ódio gratuito pode ser uma pulsão carregada de elementos destrutivos e inconscientes que fazem com que se olhe para alguém negativamente, expressando comumente uma crítica.

Então quem odeia, necessariamente não ama, ou melhor, quem odeia pode estar amando - pode tratar-se de sentimentos antagônicos.

É um tipo de ódio sem consistência devido ao que lhe mantém ser um equívoco.

Muitos são os motivos que podem levar alguém a desenvolvê-lo, porém todos esses motivos estão pautados no antagonismo entre ódio e amor. É aquele desconforto que não é explicado quando se olha uma pessoa. Sem causa legítima, começa-se a encontrar um defeito ou algo que não gostou a fim de justificar-se.

Trabalho com a ideia de que essas pessoas “odiadas” trazem a tona lembranças inconscientes, conteúdos mal resolvidos e registros de experiências que causaram marcas negativas. No entanto, elas nada fizeram diretamente. Por isso o termo "gratuito". Seria mais ou menos algo como alguém pagando o preço por áreas mal resolvidas e desconhecidas da pessoa que sente o ódio.

Nasce através da antipatia gratuita, da expressão que os antigos usavam chamando de implicância, crescendo sem razão concreta, podendo até chegar a atos de vingança. Acontece no ambiente familiar, no trabalho, no social, nas igrejas, na faculdade, na coletividade. Implica-se com o próximo, com o diferente, com o governo.

Chamado de ódio ao intensificar dentro da pessoa e na medida em que outras pessoas endossam, apoiam ou instigam, validando a pessoa acreditar que tem toda razão em não gostar.

Por isso é tão importante possuir amizades saudáveis e maduras, pois, essas amizades podem auxiliar a desmontar a criação desse sentimento destrutivo, uma vez que boas amizades auxiliam na reflexão que a pessoa está criando na mente.

O ódio gratuito pode ser desfeito, ou se tornar crônico.

Pode tornar-se crônico pelo fato de alimentar cada vez mais fantasias e motivos para distanciamento e receber apoio de outros que possuem a mesma fração doentia que a pessoa.

A pessoa que possui tendência a odiar gratuitamente pode ter comportamento critico, preconceituoso, rígido, imaturo para se relacionar e pouco conhecimento de si mesmo.

Para desconstruir, é necessária em primeiro lugar, a pessoa perceber que ela própria está se tornando amarga, que a repetição do comportamento está lhe causando um grande mal.
Esse sentimento, enrijece e atrofia a mente de quem o sente, esfria o coração.
Em segundo lugar, dar passos de aproximação na direção da pessoa, conhecê-la de fato, desmontar a construção irreal. Ao deparar-se com uma pessoa real, que foi uma construção equivocada, o ódio pode transformar-se em amor.
São passos que farão a desconstrução dos pensamentos e das ideias negativas que alimentava.

Muitas vezes a pessoa que odeia precisa de mais amor na própria vida. Esse pode ser o fato de odiar. Odeia a vida que não lhe foi ou não é satisfatória, passa a odiar pessoas aleatórias que sejam representantes de suas insatisfações emocionais.

Precisa também perdoar sua história, perdoar a primeira pessoa que lhe negou ou que causou a primeira frustração. Esse foi o momento que gerou tal sentimento pela primeira vez. É como se a vida houvesse lhe negado algo que não aceita ficar sem.


É provável que a origem desse ódio gratuito possa vir das primeiras relações afetivas não satisfatórias, não afetuosas ou ainda, característica da própria criança que precisava ser trabalhada pelos pais desde bem cedo.

Considere o exemplo do bebê que quando quer mamar simplesmente chora, demonstra insatisfação chorando. Outro bebê que não chora, mas morde o peito da mãe por não estar sendo saciado. Esse bebê que morde, está demonstrando mais pulsão por sua necessidade não estar sendo atendida. Dá sinais de ser uma criança mais exigente, menos tolerante. 

Uma mãe madura, sensível e afetuosa irá acalmando aos poucos seu bebê e ensinando outras formas de reagir, recusará a mordida, “apenas a mordida e não o bebê”. Uma mãe que não esteja bem, simplesmente retira o seio e enraivece com o bebê instintivamente. O bebê tende a piorar, internalizar como sentimento de rejeição. Pode passar a ser grudado na mãe em excesso, principalmente para mamar. Cada criança possui sua interpretação interna.

O bebê enraivecido se torna o adolescente intolerante e o adulto que odeia. Está revivendo ódios inconscientes das necessidades exigidas e não atendidas. Passa a transferir a pessoas que não tem ligação alguma com suas frustrações.   

As pessoas odiadas podem ser representações simbólicas de suas memórias, por isso o termo “gratuito”. Pessoas eleitas por alguma insatisfação momentânea. Quem odeia, rejeita a aparência, gestos, postura, ou uma área que desperta inveja – “aquela pessoa recebeu o que eu não recebi, logo, a odeio”.

No entanto, ao pensar que o ódio não é o oposto do amor, penso que o bebê viveu a mistura, entre amar a mãe e ao mesmo tempo sentir muita raiva por não estar sentindo-se suprido por ela. E quando adulto pode odiar por não receber aspectos de suas exigências, mas poderá crescer e compreender. Poderá distinguir e re-significar a experiência, amadurecer seus sentimentos. E quem sabe, abandonar o odiar. 

“Caso você conheça pessoas assim, procure ser um agente de desconstrução do ódio gratuito. Estimule essa pessoa a conhecer-se melhor e aos demais. Não concordando, não apoiando as impressões fantasiosas e críticas na direção daquilo e daqueles que não conhece o suficiente. Torne-se um agente de transformação, torne-se um agente promotor do amor”.


Iseli Cruz.

Jan/17.

domingo, 22 de janeiro de 2017

Necessidade, desejos e vontades.

              Muitos estão em busca da resposta para a pergunta que ecoa dentro do ser:

Porque e para quê vivemos?

"Aquietai-vos"
A era da busca dos sentidos, onde o sentimento de vazio está presente na criança que tenta se preencher com tantos brinquedos, no adolescente que mergulha no mundo virtual, no jovem que anseia por sexo, droga e realização pessoal e no idoso que quer um alento para a solidão. Tudo se contrapondo e se misturando com a necessidade de sentido:

.A era das necessidades da explicação;
.Da racionalização;
.Da compreensão psíquica e do entendimento palpável.

E então a busca pelo sentido já não é mais pelo sentido do que é sentido, mas do que é compreendido. 
O sentido do que é sentido se perdeu, tornou-se uma explosão de impulsos, de instintos e de necessidades momentâneas.
O amor entrou no processo de amor aos instintos, à fome de coisas que não preenchem, que dura tanto quanto o prazer das explosões. E depois de vivê-lo, cai-se no vazio.

Todos dizem amar, mas quase ninguém mais sabe o que é amar.

Aquele que busca respostas para o preenchimento do ser para além do preenchimento da alma e do corpo, possui mais chances de encontrar suas respostas.

O vazio está no centro do nosso ser – o vazio está no profundo, onde se aloja o espírito humano. O mesmo que nos foi colocado pelo Criador da vida. Ele é espírito, por isso também temos um espírito e enquanto o espírito não for vivificado, ou seja, enquanto o espírito não ganhar vida dentro de nós, jamais preencheremos nosso vazio, tão pouco responderemos o sentido da nossa existência.

Nessa hora vale-nos que voltemos aos ensinamentos sobre o verdadeiro amor e quem de fato sabe sobre isso. Ele – o Amor – quem nos responde sobre o sentido da vida.

Jesus ordenou que cumpríssemos um único mandamento para que nossa vida valesse a pena e vivêssemos bem. Ele sabia que estaríamos à procura do sentido de nossa existência.

“Procurem fazer o que eu faço, amem como eu vos amo” – Jo. 13:34

A resposta para nosso vazio está no ato de amar como Ele amou.

Amem, “mas amem como eu vos amo”

É o amor da prática do bem na direção de todos.

Ele não falava do amor romântico, Ele falava do amor que supre a necessidade de quem pode estar ao lado ou muito distante.

Ele chegou a perguntar ao cego “O que queres que te faça?”, a fim de saber se a pessoa responderia a respeito daquilo que precisava de fato ou apenas de seu desejo ou vontade.

Se Jesus lhe fizer essa pergunta hoje, o que responderia a Ele? Quero realização pessoal ou quero que preenchas meu vazio existencial? Caso responda querer realização pessoal, provavelmente Ele responderia: "Lute até que consiga o que desejas". Caso responda que quer preencher seu vazio, sua falta de sentido, Ele lhe responderia: Eu Sou o que você precisa!

Então lhe diria: “Entrarei em você para que você ame ao próximo como eu vos amo e seu vazio será preenchido”.

O que irá nos preencher é o que praticamos e não algo que queremos sentir ou receber.

Como Ele amava as pessoas? Amava oferecendo aquilo que elas necessitavam.

É diferente daquilo que eu acho que ela precisa, e muito menos daquilo que ela quer, mas aquilo que ela necessita.

Não é distribuição de cestas básicas aleatórias ou abraços de simpatia.

Só sabemos o que uma pessoa realmente necessita quando olhamos para dentro dela. Estamos sempre a confundir o que é necessidade, o que é desejo e o que é vontade.

Cristo sabia que se atendesse nossas vontades, ela não se saciaria devido a nossa insaciedade. Se atendesse nossos desejos, nos tornaríamos tiranos, exigentes e arrogantes, devido nossa imaturidade.

Há os que necessitam de comida, água, casa, roupas, remédios. Há os que precisam de atenção, carinho, cuidados, conversas, falas, ou serem ouvidos. E há os que precisam de valores, princípios para a vida, direcionamento e até correção.

Amar como Cristo ama é oferecer o bem para que a pessoa cresça e caminhe na direção de Deus-Pai. Amar como Cristo ama é mostrar através dos nossos atos que Ele é bom. 
Através disso, a pessoa consegue perceber que Deus habita dentro de nós.

Jesus disse: “Ame como vos amo”. 
“Estou fazendo isso e dessa maneira para lhes mostrar o caminho para meu Pai, e todos que fizerem como Eu, serão meus irmãos e estarão mostrando o caminho a outros mais. Nunca mais se sentirão vazios e nem falta de sentido na vida, porque quem ama como Eu amo, está suprido do amor que Eu dou e do amor que oferece aos outros”. 

Nossa função na vida é amar - O Verbo invisível, não palpável, mas sentido, experimentado, encarnado.

Também nos diz: “Meu Pai ama os injustiçados, o rejeitado, o discriminado, o ignorado, o de aparência feia, o marginalizado, o que sofre dores, o que está humilhado. Todo àquele que estiver em condições desfavorável, em condição de humilhação, esse meu Pai tem amor especial. Por isso amem a esses em especial”.

Estaremos sendo uma ponte. Ao oferecermos a esses, aquilo que já recebemos Dele, estaremos dizendo: Olhe para mim e veja Quem estou copiando, veja Quem estou seguindo.

Nossos atos, ações e atitudes de amor real que atendem as necessidades e não as vontades estarão transmitindo a mensagem de que assim como O Pai fez a mim, faço a você, para que você saiba que Ele é bom - No entanto, não olhe para mim, não me valorize, olhe para Ele, pois foi Ele que fez isso em mim - Ofereço o que recebi.

Fazer o que Ele nos manda, através da consciência de que fomos supridos em nossas necessidades e por isso, agora podemos suprir alguém.

Ao fazer isso, supriremos o próximo em sua necessidade para que não sofra o vazio que um dia sentimos. Isso é amor.

Nesse processo, nosso vazio se vai.

Ele nos enche e cheios, não retemos, mas distribuimos. Estaremos cumprindo o mandamento:                                                   “Amem como vos amo”.



Iseli
Jan/17.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Trauma ou aprendizado



Raramente uma pessoa não vivencia na infância, na adolescência ou mesmo na juventude experiências que tocam e atingem profundamente áreas do emocional. São aquelas experiências que consciente ou inconscientemente nos fazem sofrer.

Por mais que uma família seja estruturada e tente oferecer base sólida necessária quer seja materialmente ou afetivamente segura aos filhos, não é o suficiente a ponto de poupar a criança de experiências desse nível. Além da família, a criança possui sua própria estrutura interna, sensibilidade e forma que dispõe para interpretar o que experimenta dentro de si e o que assiste em seu meio familiar. Logo, dificilmente estamos livres de experimentar emoções inseguras ou desagradáveis a ponto de carregar alguma marca negativa dentro de nós.

Imagine então, considerarmos que a maioria dos lares não possua tal estrutura, pelo contrário, em alguma fase, a maioria de nós teve lares instáveis, desorganizados, desestruturados ou então, nem tivemos um lar.

As experiências que guardamos e muitas vezes retomam a nossa memória de forma dolorosa e desconfortável, por ter-nos feito sofrer, podem significar um trauma, dependendo da profundidade que atingiu nosso emocional.

Em cada um de nós existe um dispositivo que irá acionar nossa reação pós- trauma. Esse dispositivo pode seguir na direção da fixação neurótica ou gerar um aprendizado.

Nem sempre identificamos de imediato o que houve dentro de nós. O estrago causado por tal experiência, com o passar do tempo, gera reações que irão mostrando através do comportamento e escolhas, o que fizemos com aquela experiência.

Por exemplo, ao assistirmos uma briga dos pais, ao participarmos de uma cena de violência envolvendo alguém especial ou se nós mesmos formos agredidos por um adulto, nosso emocional poderá ser atingido profundamente e guardaremos essa emoção dentro de nós sem saber muito bem o que fazer. Num determinado momento, nosso dispositivo reagirá para superar ou reforçar a dor. São direções que escolhemos inconscientemente.

Às vezes perguntamos: por que uma pessoa sofre e torna-se uma boa pessoa e outra sofre e transforma-se em má pessoa? Em partes, tem a ver com a forma de interpretação de cada um. Como se nossa mente elegesse algo como – “vou superar isso produtivamente”. Enquanto outra mente diria “vou me vingar ou vou me livrar dessa dor de qualquer jeito, agredindo-me ou agredindo outros”. Há um dispositivo interno que dirige nossas ações para áreas saudáveis e outro para áreas não saudáveis.

Conhecendo-nos, podemos escolher (conscientemente) o que fazer com isso.

Algumas pessoas, já na idade adulta, expressam seus traumas causando mal a si mesmas, outra grande maioria estende-se a causar aos outros.

Há ainda traumas disfarçados, os quais a pessoa acredita que fez bom uso de suas experiências, mas com o tempo apresenta sintomas indesejáveis sutis, ou ainda profundos sentimentos de infelicidade.

Exemplo, pessoas que passaram por privações ou medo de privações na infância e tornam-se adultos workaholics. Estão acreditando que se tornaram responsáveis e comprometidas. Porém não conseguem desfrutar da vida, a ponto de só saberem trabalhar. Um mecanismo de defesa adotado para se proteger contra privações.

Por trás de diversos níveis de agressividade destrutivos, ódios e vinganças existem histórias de traumas acolhidos e mal canalizados (veja meu texto em breve – ódio gratuito. Nele, abordo sentimentos que muitas vezes sustentam escolhas equivocadas de superação de dor).

A questão é que nossas experiências emocionais podem significar uma vida inteira de comprometimentos causando mal a nós mesmos ou a outras pessoas.

No entanto, todos nós, acessando na infância ou não, carregamos um elemento saudável de reação frente à vida. Alguns acionam instintivamente, desde a infância, naturalmente escolhem transformar a experiência de dor em aprendizado. Tirando um saldo positivo das próprias dores.


Pois diferente disso, uma pessoa que viveu as mesmas ou semelhantes emoções sofridas, aponta para elas com segurança mostrando que elas ensinaram a lidar com a vida de forma otimista. Consegue relatá-las sem torná-la âncora de justificativas tensas dentro do ser.


Os sofrimentos podem nos tornar pessoas resilientes e não amedrontadas. A âncora do nosso ser não pode ser uma dor “re-sentida”. 

Para quem não superou ainda essas marcas, há alguns caminhos a dispor para superação, encontradas através de psicoterapias. Outro caminho para quem acredita está na prática da fé, está em Gen. 1:27 dito “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus, o criou”. Sendo Deus Bom, colocou algo de bom dentro da sua criação. Esse elemento transforma através das mudanças de atitudes, o olhar do ser humano que era destrutivo em construtivo - transformando trauma em aprendizado e crescimento.

Sendo um adulto, observe-se e perceba sua fala a respeito do seu passado. Sempre que defende a ideia de que está fazendo algo para fugir de algo ruim da infância, provavelmente está sendo escravo de um trauma. Por exemplo: “Fujo de ambientes de brigas porque meu pai brigava muito”.

Na idade adulta, conscientes, podemos e devemos enfrentar, e não fugir.

Traumas podem ser superados. Não podemos passar a vida escondidos por trás deles, mesmo aqueles que acabamos nos acostumando, alojando-os tão bem dentro de nós a ponto de estarmos “aparentemente” confortáveis.

Quem carrega um trauma, alimentando-o em seus comportamentos, está escravo dele. Não é uma pessoa livre, além de outras perdas, não experimenta e nem expressa afetividade.
A escolha é de cada um – transformar traumas em aprendizado é uma questão de amor a si e ao próximo.

Iseli Cruz.

    

domingo, 8 de janeiro de 2017

Nossas perdas e a dor de Deus


A dor da perda é umas das dores mais doloridas que experimentamos.

Talvez seja ela a nos tornar humanos quando sabemos significá-la e então re-significá-la.

Chorar as perdas nos faz experimentar nossa profundidade e quebrar estruturas que podem ainda estar a nos manter orgulhosos, egoístas, insensíveis, desalmados.

Ao experimentar a perda de algo que nos é de valor significativo podemos nos tornar pessoas de verdade, gente de verdade. Vai depender de como vamos armazenar o que obtivermos a partir do experimentá-la.

Para mim, não existe dor maior ou menor quando se trata de perdas. A dimensão daquilo que ela atinge ou significa para cada um depende da capacidade de cada um suportar, depende da sensibilidade de cada um que a experimenta e depende do valor daquilo que está sendo perdido tem na vida da pessoa naquele momento.

Mas chorar a perda é essencial.

Há os que não choram, preferem lidar de outras maneiras.

Há tantos tipos de choros, alguns que são dolorosos apenas pela perda aparente, mas também há choros por dores não choradas anteriormente. (No meio disso podem estar os choros não chorados que foram lidados de outras maneiras).

Por isso é importante chorar, para que nosso coração se dilate e não se transforme em pedra.

Chorar a perda de um relacionamento perdido,
Chorar a perda do lar desfeito, do lar que desabou pelas chuvas,
Chorar a perda do filho ou a perda do pai,
Chorar a perda do cônjuge ou do grande amigo,
Chorar a perda do animal de estimação que nos fazia companhia,
Chorar a perda da liberdade,
Chorar a perda da saúde,
Chorar a perda da juventude não vivida,
Chorar a perda do lugar na Pátria,
Chorar a perda de um órgão do corpo,
Chorar a perda de uma causa de valor,
Chorar a dor do outro que nos abate,
Chorar as escolhas equivocadas que não fazem bem,
Chorar a oportunidade que passou,
Chorar pelas escolhas de anti vida que fazemos a nós mesmos e que outros fazem por eles,
Chorar a consequência daquilo que não deveria ter escolhido.

Diz-se que a capacidade de chorar profundamente eleva a capacidade de alegrar-nos imensamente.

Nosso choro é sempre um choro por algo específico, enquanto que a dor de Deus é por tudo e por todos.
Penso que:

É o choro pelas causas, pelos elementos que causam dor, pela vida não experimentada, não vivida, não apropriada. É o choro pelo que chora, pelo que causa sofrimento e pelo que sofre. É o choro pelo que não chegou a conhecer a vida e pelo que partiu sem vivê-la. Choro por aquele que não aprendeu chorar e por aqueles que decidiram chorar. O choro do contentamento, emocionado e sem emoção. Por aqueles que erram e pelos que acertam. Pelos que perderam e pelos que decidiram não desistir, mas também pelos que desistiram. Também chora por aquele que se perdeu e por aquele que O encontrou.
Ele Chora quando nos perdemos e quando nos achamos. Ele chora quando nos rendemos e quando não queremos nos render. Chora pelas vítimas e chora pelos que causaram vítimas.
Ele chora por nos querer com Ele, e chora ao escolhemos não querê-lo.

Deus não classifica pelo quê estamos sofrendo, Ele reconhece nossa dor, se compadece dela e nos acolhe.

É a dor que nenhum ser humano consegue dimensionar porque é a dor do Espírito, da alma, da razão e da emoção, juntos. 
É a lágrima invisível que jamais saberemos como ela é.

É o choro de Quem criou o choro, portanto somente Ele sabe seu significado e sua fonte.
Por isso é que Ele nos acolhe em nosso choro. É somente Ele quem consegue consolar-nos das dores causadas pelas perdas.

Nós o fazemos chorar, mas Ele nunca nos fará chorar.

Dar um novo significado a nossa vida pós-perda é algo que recebemos de presente quando O convidamos a fazer parte do processo da perda e da dor.

Então, o choro de Deus se transforma em risos dento de nós e em nós.

Bom é o choro que se reverteu em risos.

Se for verdade que chorar profundamente nos conduz a alegrias imensas, a alegria de Deus está acima de qualquer dimensão. Ele a dispõe a nós pós-dor.

“Hoje chorei, Ele visitou-me. Sabe por que eu sei? Porque somente Ele é capaz de nos tirar da dor, transformando-a em algo bom. Presenteou-me com esse texto. A alegria Dele logo chegará a mim. – Somente Quem conhece as profundezas da dor, sabe nos mostrar o caminho da saída - Espero que isso também aconteça a você se um dia seu choro chegar”.  

Iseli
Jan/17

domingo, 1 de janeiro de 2017

Carencias do homem

 Um lugar, uma pessoa


O que buscas ? O lar que não teve na infância ?
Qual carinho idealiza ? O colo da mãe ?  
                               
Nenhum lugar, nenhuma pessoa até agora encontrado, a não ser por curto tempo e logo inquietação e angústia chegam na alma e o corpo pede para partir.

Tal qual um andarilho viajante ou uma criança órfã pode ser um homem que não superou o lar desfeito e a ausência do afeto materno. 

Na idade adulta passa a visitar casas apenas de passagem e em seguida sai em busca de outro. Nunca descansa em paz, apenas repousos da alma inquieta, insegura, cansada e desconfiada.

Tão logo é saciado o corpo, parte em busca de outra casa, outro corpo e outra tentativa de se preencher.

Tudo em vão, revivido anos após anos, casa após casa, cama após cama, corpos após corpos.

A repetição e múltiplos interesses após anos faz com que os cheiros se misturem, os gostos se confundem, distanciando-se daquilo que procura da infância deixada para traz.

Qual lugar está a procura ? Quem é a pessoa que buscas ?

Nenhuma pessoa foi capaz de oferecer o colo que procura. Foram colos ocos, casas sem solos, sem paredes que não ofereceram abrigo seguro, nem satisfação daquilo que o coração esperava receber.

Nenhuma mulher transmitiu a segurança nem o afeto buscado ou a confiança que necessitava.
A criança cresceu e a idade chegou, mas a insatisfação não se resolveu dentro da alma.
Não encontrou o lar que precisava para sentir-se seguro, não teve o colo que ansiava para se sentir amado.

Em cada mulher mais uma tentativa, em cada cama a simbolização da ansiedade da busca frustrada.

Homem crescido que não se desprende dos anseios da criança, não amadurece  – Tornando-se homem, é possível, construir um lar, sendo homem, o colo pode ser atendido pelo abraço e beijo de mulher.

A mãe não virá mais, o colo será dos netos. Findou a fase de oferecer aquilo que uma criança busca. A casa do passado já não terá aquela família – todos cresceram e mudaram.

É preciso que a alma aceite e deseje construir seu próprio lar, escolhendo uma só mulher, caso contrário o andarilho permanecerá na busca jamais preenchida.

Ao surgir alguém diferente, sensível, capaz de decifrar-lhe o olhar e formar um lar tranquilo, genuíno, saberá identificar no meio de tantas outras? Alguém que deseja acolher – Convidando-o a ir além da alma, dançar na alegria do Espírito. - As lentes do olhar deformaram? A desconfiança, a inquietação, e os hábitos podem não permitir experimentar nada mais profundamente, nem o colo carinhoso da mulher nem o lar de paz. O andarilho se perpetuará ?

Tempo de crescimento.

É preciso trabalhar a ideia de que os anos chegaram e o lugar está dentro do ser.

O lar é um lugar construído dentro de si e fora de si quando se pratica lealdade com maturidade. Desejar, aceitar e ter paz para a construção de um lar que não seja o da infância, mas o real.

Permitir receber abraço, beijo e o agrado de uma única mulher podem ser tão especiais para um homem maduro quanto o colo que não teve.

Quem lhe fará ver isso? A consciência.

Abrir mão do passado e deixar de ser saciado pelos enganos mostrará que a criança cresceu dentro de si e tornou-se homem fora de si.


                                                      Iseli Cruz – Dez./16