Concordo
com a ideia de que o contrário do amor não é o ódio, mas a indiferença.
“Uma
vez que na indiferença mata-se a pessoa de
dentro, enquanto que no ódio existe
uma pulsão de emoção na direção da pessoa. Essa
pulsão alimenta a existência daquela pessoa dentro de nós – isso é vida”.
Ou
seja, o ódio gratuito pode ser uma pulsão carregada de elementos destrutivos e
inconscientes que fazem com que se olhe para alguém negativamente, expressando
comumente uma crítica.
Então
quem odeia, necessariamente não ama, ou melhor, quem odeia pode estar amando -
pode tratar-se de sentimentos antagônicos.
É
um tipo de ódio sem consistência devido ao que lhe mantém ser
um
equívoco.
Muitos
são os motivos que podem levar alguém a desenvolvê-lo, porém todos esses
motivos estão pautados no antagonismo entre ódio e amor. É aquele desconforto
que não é explicado quando se olha uma pessoa. Sem causa legítima, começa-se a encontrar um defeito ou algo que não
gostou a fim de justificar-se.
Trabalho
com a ideia de que essas pessoas “odiadas” trazem a tona lembranças
inconscientes, conteúdos mal resolvidos e registros de experiências que
causaram marcas negativas. No entanto, elas nada fizeram diretamente. Por isso
o termo "gratuito". Seria mais ou menos algo como alguém pagando o
preço por áreas mal resolvidas e desconhecidas da pessoa que sente o ódio.
Nasce
através da antipatia gratuita, da expressão que os antigos usavam chamando de
implicância, crescendo sem razão concreta, podendo até chegar a atos de
vingança. Acontece no ambiente familiar, no trabalho, no social, nas igrejas,
na faculdade, na coletividade. Implica-se com o próximo, com o diferente, com o
governo.
Chamado de ódio ao intensificar dentro da pessoa e na
medida em que outras pessoas endossam, apoiam ou instigam, validando a pessoa
acreditar que tem toda razão em não gostar.
Por
isso é tão importante possuir amizades saudáveis e maduras, pois, essas
amizades podem auxiliar a desmontar a criação desse sentimento destrutivo, uma
vez que boas amizades auxiliam na reflexão que a pessoa está criando na mente.
O ódio gratuito
pode ser desfeito, ou se tornar crônico.
Pode
tornar-se crônico pelo fato de alimentar cada vez mais fantasias e motivos para
distanciamento e receber apoio de outros que possuem a mesma fração doentia que
a pessoa.
A
pessoa que possui tendência a odiar gratuitamente pode ter comportamento critico,
preconceituoso, rígido, imaturo para se relacionar e pouco conhecimento de si
mesmo.
Para desconstruir, é necessária em
primeiro lugar, a pessoa perceber que ela própria está se tornando
amarga, que a repetição do comportamento está lhe causando um grande mal.
Esse
sentimento, enrijece e atrofia a mente de quem o sente, esfria o coração.
Em segundo lugar, dar passos de aproximação
na direção da pessoa, conhecê-la de fato, desmontar a construção irreal. Ao deparar-se com uma pessoa real, que foi uma
construção equivocada, o ódio pode transformar-se em amor.
São passos que farão a desconstrução dos pensamentos e
das ideias negativas que alimentava.
Muitas
vezes a pessoa que odeia precisa de mais amor na própria vida. Esse pode ser o fato de odiar.
Odeia a vida que não lhe foi ou não é satisfatória, passa a odiar pessoas aleatórias que sejam
representantes de suas insatisfações emocionais.
Precisa também perdoar sua história, perdoar a primeira pessoa que lhe negou ou que
causou a primeira frustração. Esse foi o momento que gerou tal sentimento pela
primeira vez. É como se a vida houvesse lhe negado algo que não aceita ficar
sem.
É
provável que a origem desse ódio gratuito possa vir das primeiras relações afetivas não satisfatórias, não
afetuosas ou ainda, característica da própria criança que precisava ser
trabalhada pelos pais desde bem cedo.
Considere o exemplo
do bebê que quando quer mamar simplesmente chora, demonstra insatisfação
chorando. Outro bebê que não chora, mas morde o peito da mãe por não estar
sendo saciado. Esse bebê que morde, está demonstrando mais pulsão por sua
necessidade não estar sendo atendida. Dá sinais de ser uma criança mais exigente,
menos tolerante.
Uma mãe madura,
sensível e afetuosa irá acalmando aos poucos seu bebê e ensinando outras formas
de reagir, recusará a mordida, “apenas a mordida e não o bebê”. Uma mãe que não esteja bem, simplesmente retira o
seio e enraivece com o bebê instintivamente. O bebê tende a piorar,
internalizar como sentimento de rejeição. Pode passar a ser grudado na mãe em
excesso, principalmente para mamar. Cada criança possui sua interpretação
interna.
O bebê enraivecido se torna o adolescente intolerante e o adulto que
odeia. Está
revivendo ódios inconscientes das necessidades exigidas e não atendidas. Passa
a transferir a pessoas que não tem ligação alguma com suas frustrações.
As pessoas odiadas
podem ser representações simbólicas de suas memórias, por isso o termo “gratuito”.
Pessoas eleitas por alguma insatisfação momentânea. Quem odeia, rejeita a
aparência, gestos, postura, ou uma área que desperta inveja – “aquela pessoa
recebeu o que eu não recebi, logo, a odeio”.
No entanto, ao pensar
que o ódio não é o oposto do amor, penso que o bebê viveu a mistura, entre amar
a mãe e ao mesmo tempo sentir
muita raiva por não estar
sentindo-se suprido por ela. E quando adulto pode odiar por não receber aspectos de
suas exigências, mas poderá crescer e
compreender. Poderá distinguir e re-significar a experiência, amadurecer seus
sentimentos. E quem sabe, abandonar o odiar.
“Caso
você conheça pessoas assim, procure ser um agente de desconstrução do ódio
gratuito. Estimule essa pessoa a conhecer-se melhor e aos demais. Não
concordando, não apoiando as impressões fantasiosas e críticas na direção
daquilo e daqueles que não conhece o suficiente. Torne-se
um agente de transformação, torne-se um agente promotor do amor”.
Iseli Cruz.
Jan/17.