Um lugar, uma pessoa
O que buscas ? O lar que não teve na infância ?
Qual carinho idealiza ? O colo da mãe ?
Nenhum lugar, nenhuma pessoa até agora encontrado, a não ser por
curto tempo e logo inquietação e angústia chegam na alma e o corpo pede para partir.
Tal qual um andarilho viajante ou uma criança órfã pode ser um
homem que não superou o lar desfeito e a ausência do afeto materno.
Na idade
adulta passa a visitar casas apenas de passagem e em seguida sai em busca de
outro. Nunca descansa em paz, apenas repousos da alma inquieta, insegura,
cansada e desconfiada.
Tão logo é saciado o corpo, parte em busca de outra casa, outro
corpo e outra tentativa de se preencher.
Tudo em vão, revivido anos após anos, casa após casa, cama após
cama, corpos após corpos.
A repetição e múltiplos interesses após anos faz com que os
cheiros se misturem, os gostos se confundem, distanciando-se daquilo que
procura da infância deixada para traz.
Qual lugar está a procura ? Quem é a pessoa que buscas ?
Nenhuma pessoa foi capaz de oferecer o colo que procura. Foram
colos ocos, casas sem solos, sem paredes que não ofereceram abrigo seguro, nem satisfação
daquilo que o coração esperava receber.
Nenhuma mulher transmitiu a segurança nem o afeto buscado ou a
confiança que necessitava.
A criança cresceu e a idade chegou, mas a insatisfação não se
resolveu dentro da alma.
Não encontrou o lar que precisava para sentir-se seguro, não teve
o colo que ansiava para se sentir amado.
Em cada mulher mais uma tentativa, em cada cama a simbolização da
ansiedade da busca frustrada.
Homem crescido que não se desprende dos anseios da criança, não
amadurece – Tornando-se homem, é possível,
construir um lar, sendo homem, o colo pode ser atendido pelo abraço e beijo de
mulher.
A mãe não virá mais, o colo será dos netos. Findou a fase de
oferecer aquilo que uma criança busca. A casa do passado já não terá aquela
família – todos cresceram e mudaram.
É preciso que a alma aceite e deseje construir seu próprio lar, escolhendo uma só mulher, caso contrário o andarilho permanecerá na busca jamais
preenchida.
Ao surgir alguém diferente, sensível, capaz de decifrar-lhe o olhar
e formar um lar tranquilo, genuíno, saberá identificar no meio de tantas
outras? Alguém que deseja acolher – Convidando-o a ir além da alma, dançar na
alegria do Espírito. - As lentes do olhar deformaram? A desconfiança, a
inquietação, e os hábitos podem não permitir experimentar nada mais profundamente,
nem o colo carinhoso da mulher nem o lar de paz. O andarilho se perpetuará ?
Tempo de crescimento.
É preciso trabalhar a ideia de que os anos chegaram e o lugar
está dentro do ser.
O lar é um lugar construído dentro de si e fora de si quando se
pratica lealdade com maturidade. Desejar, aceitar e ter paz para a construção de um lar que
não seja o da infância, mas o real.
Permitir receber abraço, beijo e o agrado de uma única mulher
podem ser tão especiais para um homem maduro quanto o colo que não teve.
Quem lhe fará ver isso? A consciência.
Abrir mão do passado e deixar de ser saciado pelos enganos
mostrará que a criança cresceu dentro de si e tornou-se homem fora de si.
Iseli Cruz – Dez./16
Nenhum comentário:
Postar um comentário