segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Trauma ou aprendizado



Raramente uma pessoa não vivencia na infância, na adolescência ou mesmo na juventude experiências que tocam e atingem profundamente áreas do emocional. São aquelas experiências que consciente ou inconscientemente nos fazem sofrer.

Por mais que uma família seja estruturada e tente oferecer base sólida necessária quer seja materialmente ou afetivamente segura aos filhos, não é o suficiente a ponto de poupar a criança de experiências desse nível. Além da família, a criança possui sua própria estrutura interna, sensibilidade e forma que dispõe para interpretar o que experimenta dentro de si e o que assiste em seu meio familiar. Logo, dificilmente estamos livres de experimentar emoções inseguras ou desagradáveis a ponto de carregar alguma marca negativa dentro de nós.

Imagine então, considerarmos que a maioria dos lares não possua tal estrutura, pelo contrário, em alguma fase, a maioria de nós teve lares instáveis, desorganizados, desestruturados ou então, nem tivemos um lar.

As experiências que guardamos e muitas vezes retomam a nossa memória de forma dolorosa e desconfortável, por ter-nos feito sofrer, podem significar um trauma, dependendo da profundidade que atingiu nosso emocional.

Em cada um de nós existe um dispositivo que irá acionar nossa reação pós- trauma. Esse dispositivo pode seguir na direção da fixação neurótica ou gerar um aprendizado.

Nem sempre identificamos de imediato o que houve dentro de nós. O estrago causado por tal experiência, com o passar do tempo, gera reações que irão mostrando através do comportamento e escolhas, o que fizemos com aquela experiência.

Por exemplo, ao assistirmos uma briga dos pais, ao participarmos de uma cena de violência envolvendo alguém especial ou se nós mesmos formos agredidos por um adulto, nosso emocional poderá ser atingido profundamente e guardaremos essa emoção dentro de nós sem saber muito bem o que fazer. Num determinado momento, nosso dispositivo reagirá para superar ou reforçar a dor. São direções que escolhemos inconscientemente.

Às vezes perguntamos: por que uma pessoa sofre e torna-se uma boa pessoa e outra sofre e transforma-se em má pessoa? Em partes, tem a ver com a forma de interpretação de cada um. Como se nossa mente elegesse algo como – “vou superar isso produtivamente”. Enquanto outra mente diria “vou me vingar ou vou me livrar dessa dor de qualquer jeito, agredindo-me ou agredindo outros”. Há um dispositivo interno que dirige nossas ações para áreas saudáveis e outro para áreas não saudáveis.

Conhecendo-nos, podemos escolher (conscientemente) o que fazer com isso.

Algumas pessoas, já na idade adulta, expressam seus traumas causando mal a si mesmas, outra grande maioria estende-se a causar aos outros.

Há ainda traumas disfarçados, os quais a pessoa acredita que fez bom uso de suas experiências, mas com o tempo apresenta sintomas indesejáveis sutis, ou ainda profundos sentimentos de infelicidade.

Exemplo, pessoas que passaram por privações ou medo de privações na infância e tornam-se adultos workaholics. Estão acreditando que se tornaram responsáveis e comprometidas. Porém não conseguem desfrutar da vida, a ponto de só saberem trabalhar. Um mecanismo de defesa adotado para se proteger contra privações.

Por trás de diversos níveis de agressividade destrutivos, ódios e vinganças existem histórias de traumas acolhidos e mal canalizados (veja meu texto em breve – ódio gratuito. Nele, abordo sentimentos que muitas vezes sustentam escolhas equivocadas de superação de dor).

A questão é que nossas experiências emocionais podem significar uma vida inteira de comprometimentos causando mal a nós mesmos ou a outras pessoas.

No entanto, todos nós, acessando na infância ou não, carregamos um elemento saudável de reação frente à vida. Alguns acionam instintivamente, desde a infância, naturalmente escolhem transformar a experiência de dor em aprendizado. Tirando um saldo positivo das próprias dores.


Pois diferente disso, uma pessoa que viveu as mesmas ou semelhantes emoções sofridas, aponta para elas com segurança mostrando que elas ensinaram a lidar com a vida de forma otimista. Consegue relatá-las sem torná-la âncora de justificativas tensas dentro do ser.


Os sofrimentos podem nos tornar pessoas resilientes e não amedrontadas. A âncora do nosso ser não pode ser uma dor “re-sentida”. 

Para quem não superou ainda essas marcas, há alguns caminhos a dispor para superação, encontradas através de psicoterapias. Outro caminho para quem acredita está na prática da fé, está em Gen. 1:27 dito “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus, o criou”. Sendo Deus Bom, colocou algo de bom dentro da sua criação. Esse elemento transforma através das mudanças de atitudes, o olhar do ser humano que era destrutivo em construtivo - transformando trauma em aprendizado e crescimento.

Sendo um adulto, observe-se e perceba sua fala a respeito do seu passado. Sempre que defende a ideia de que está fazendo algo para fugir de algo ruim da infância, provavelmente está sendo escravo de um trauma. Por exemplo: “Fujo de ambientes de brigas porque meu pai brigava muito”.

Na idade adulta, conscientes, podemos e devemos enfrentar, e não fugir.

Traumas podem ser superados. Não podemos passar a vida escondidos por trás deles, mesmo aqueles que acabamos nos acostumando, alojando-os tão bem dentro de nós a ponto de estarmos “aparentemente” confortáveis.

Quem carrega um trauma, alimentando-o em seus comportamentos, está escravo dele. Não é uma pessoa livre, além de outras perdas, não experimenta e nem expressa afetividade.
A escolha é de cada um – transformar traumas em aprendizado é uma questão de amor a si e ao próximo.

Iseli Cruz.

    

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