Raramente uma pessoa não vivencia na infância, na adolescência ou mesmo na
juventude experiências que tocam e atingem profundamente áreas do emocional.
São aquelas experiências que consciente ou inconscientemente nos fazem sofrer.
Por mais que uma família seja
estruturada e tente oferecer base sólida necessária quer seja materialmente ou
afetivamente segura aos filhos, não é o suficiente a ponto de poupar a criança de
experiências desse nível. Além da família, a criança possui sua própria
estrutura interna, sensibilidade e forma que dispõe para interpretar o que experimenta
dentro de si e o que assiste em seu meio familiar. Logo, dificilmente estamos livres de experimentar emoções
inseguras ou desagradáveis a ponto de carregar alguma marca negativa dentro de
nós.
Imagine então, considerarmos que a
maioria dos lares não possua tal estrutura, pelo
contrário, em alguma fase, a maioria de nós teve lares instáveis,
desorganizados, desestruturados ou então, nem tivemos um lar.
As experiências que guardamos e
muitas vezes retomam a nossa memória de forma dolorosa e desconfortável, por
ter-nos feito sofrer, podem significar um trauma, dependendo da profundidade
que atingiu nosso emocional.
Em cada um de nós existe um dispositivo que irá acionar nossa reação
pós- trauma. Esse dispositivo pode seguir na direção da fixação neurótica ou
gerar um aprendizado.
Nem sempre identificamos de imediato
o que houve dentro de nós. O estrago causado por tal experiência, com o passar
do tempo, gera reações que irão mostrando através do comportamento e escolhas,
o que fizemos com aquela experiência.
Por exemplo, ao assistirmos uma
briga dos pais, ao participarmos de uma cena de violência envolvendo alguém
especial ou se nós mesmos formos agredidos por um adulto, nosso emocional
poderá ser atingido profundamente e guardaremos essa emoção dentro de nós sem
saber muito bem o que fazer. Num determinado momento, nosso dispositivo reagirá
para superar ou reforçar a dor. São direções que escolhemos inconscientemente.
Às vezes perguntamos: por que uma
pessoa sofre e torna-se uma boa pessoa e outra sofre e transforma-se em má pessoa?
Em partes, tem a ver com a forma de interpretação de cada um. Como se nossa
mente elegesse algo como – “vou superar isso produtivamente”. Enquanto outra
mente diria “vou me vingar ou vou me livrar dessa dor de qualquer jeito,
agredindo-me ou agredindo outros”. Há um dispositivo interno que dirige nossas
ações para áreas saudáveis e outro para áreas não saudáveis.
Conhecendo-nos, podemos
escolher (conscientemente) o que fazer com isso.
Algumas pessoas, já na idade adulta,
expressam seus traumas causando mal a si mesmas, outra grande maioria
estende-se a causar aos outros.
Há ainda traumas disfarçados, os
quais a pessoa acredita que fez bom uso de suas experiências, mas com o tempo
apresenta sintomas indesejáveis sutis, ou ainda profundos sentimentos de
infelicidade.
Exemplo, pessoas que passaram
por privações ou medo de privações na infância e tornam-se adultos workaholics.
Estão acreditando que se tornaram responsáveis e comprometidas. Porém não
conseguem desfrutar da vida, a ponto de só saberem trabalhar. Um mecanismo de
defesa adotado para se proteger contra privações.
Por trás de diversos níveis de
agressividade destrutivos, ódios e vinganças existem histórias de traumas
acolhidos e mal canalizados (veja meu texto em breve – ódio gratuito. Nele, abordo
sentimentos que muitas vezes sustentam escolhas equivocadas de superação de dor).
A questão é que nossas experiências
emocionais podem significar uma vida inteira de comprometimentos causando mal a
nós mesmos ou a outras pessoas.
No entanto, todos nós, acessando na
infância ou não, carregamos um elemento saudável de
reação frente à vida. Alguns acionam instintivamente, desde a infância,
naturalmente escolhem transformar a experiência de dor em aprendizado. Tirando
um saldo positivo das próprias dores.
Pois diferente disso, uma pessoa que
viveu as mesmas ou semelhantes emoções sofridas, aponta para elas com segurança
mostrando que elas ensinaram a lidar com a vida de forma otimista. Consegue
relatá-las sem torná-la âncora de justificativas tensas dentro do ser.
Os sofrimentos podem nos tornar
pessoas resilientes e não amedrontadas. A âncora do nosso ser não pode ser uma
dor “re-sentida”.
Para quem não superou ainda essas
marcas, há alguns caminhos a dispor para superação, encontradas através de
psicoterapias. Outro caminho para quem acredita está na prática da fé, está em Gen. 1:27 dito “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, a imagem de Deus, o
criou”. Sendo Deus Bom, colocou algo de bom dentro da sua criação. Esse
elemento transforma através das mudanças de atitudes, o olhar do ser humano que
era destrutivo em construtivo - transformando trauma em aprendizado e crescimento.
Sendo um adulto, observe-se e
perceba sua fala a respeito do seu passado. Sempre que defende a ideia de que
está fazendo algo para fugir de algo ruim da infância, provavelmente está sendo
escravo de um trauma. Por exemplo: “Fujo de ambientes de brigas porque meu pai
brigava muito”.
Na idade adulta, conscientes,
podemos e devemos enfrentar, e não fugir.
Traumas podem ser superados. Não
podemos passar a vida escondidos por trás deles, mesmo aqueles que acabamos nos
acostumando, alojando-os tão bem dentro de nós a ponto de estarmos “aparentemente”
confortáveis.
Quem carrega um trauma, alimentando-o
em seus comportamentos, está escravo dele. Não é uma pessoa livre, além de
outras perdas, não experimenta e nem expressa afetividade.
A escolha é de cada um – transformar
traumas em aprendizado é uma questão de amor a si e ao próximo.
Iseli Cruz.
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